quinta-feira, 2 de abril de 2020

A saga das coxinhas.


Osasco, 02 de abril de 2020

Querida Kitty


Já faz alguns dias que não apareço por aqui. Pensei que iria ficar de papo pro ar nesses dias, mas quanto engano. É marido e filho full time. Comidinhas e as coisas da escola.  E quase não apareço aqui hoje também. Estou exausta e com dor nas costas.  Ontem resolvi tirar o dia para fazer uma super faxina, com muita água sanitária por todos os cantos. Fui dormir com as vistas ardendo e a garganta raspando de tanto inalar produto de limpeza. Acordei melhor, dei minha aula online e fui para a minha hortinha. Colhi alguns temperos e fiquei pensando o que fazer com  um peito de frango descongelado e aquele monte de batatas que o marido ganhou. Decidi fazer coxinhas.  Assisti vários tutoriais. Tinha um que ia tanta margarina que até meu colesterol subiu. Por fim achei um com menos margarina. Chequei os ingredientes. Tinha tudo em casa. Exceto a farinha de rosca.  Tinha dois pães velhos e ralador. Como nos velhos tempos ralei os pães, passei na peneira e pronto. Agora sim, tinha a farinha de rosca e uma sujeirada adicional.   Gente... fazer essas coisas tem uma magia... a magia de procriar as louças. Dei um geral na pia e continuei cozinhando o frango, desfiando, cozinhando batatas, amassando-as, louças e mais louças. Lava-se tudo.  Inicia-se a massa da coxinha, marido querendo almoçar.  Pausa pro almoço. Louças e mais louças. Massa fria e percebi que tinha esquecido de por a manteiga nela. Xiii... só eu mesma!  Boto um pouco na hora de fazer as coxinhas. E assim enrolo e percebo que não tenho o dom da escultura. Elas parecem tudo, menos coxinhas: São redondas, ovaladas,  em forma de boizinho, e por aí afora. E mais louça.  Chão grudando. Empana, farinha  de rosca, fritura.  E fogão daquele jeito. Só pra lembrar, cada uma dessa fases uma parada no youtube para ver como empana, como frita, como congela (deu  muita coxinha)  e por fim limpar a cozinha. Fui terminar era quase 5 horas da tarde.   Congelei algumas e ia deixar outras para fritar no dia seguinte... mas até que ficaram boas e acabei fritando tudo.
Eu fico pensando nesses youtubers, no trabalho que dá pra fazer isso  em 10 minutos.  Gente. Eu comecei às 11 horas da manhã.  Que loucura. To exausta.  E aprendi  uma lição: - nunca mais quero fazer coxinhas. Isso dá muito trabalho. Minha mãe de 90 anos faz com os pés nas costas... mas eu  fico é com dor nas costas... aiii ... ai.... aiii...





Com carinho

Lina




quinta-feira, 26 de março de 2020

O Dia em que a Terra Parou


Osasco, 26 de março de 2020

Querida Kitty

Ontem o dia foi mais tranquilo, acordei um pouco mais tarde que o usual - tipo 8 horas e já fiquei repensando em estratégias para que a coisa funcione melhor nas minhas aulas de EAD, depois fui para o meu refúgio secreto, que na verdade não é tão secreto, mas é a minha hortinha – é lá onde eu descarrego o stress, faço minhas orações,  observo cada detalhe de crescimento das minhas hidropônicas e fico a contemplar a grande árvore do vizinho com sua diversidade de pássaros (até escrevi uma crônica no passado sobre ela: http://linolica.blogspot.com/2019/05/a-arvore-um-convite-empatia.html)

Pássaros cantando.  Silêncio dos homens. Fiquei olhando para rua tão deserta. Foi estranho. Lembrei da música do Raul Seixas O dia em que a terra parou. Foi bem real ou surreal...




Desci para tomar o café. O marido queria comprar pão, mas nem deixei. Ando comendo demais. Fiz uns pães de batata no domingo e tô comendo até hoje. O Dedé diz que estão queimados e eu argumento que não,  mas ele sempre é do contra e por isso não comeu os pães. Não sabe o que está perdendo:  estão deliciosos, principalmente quando a gente esquenta no micro-ondas com um queijo e presunto.

Ontem aproveitei para brincar no Facebook postando fotos no Grupo de Mulheres Viajantes Sozinhas. Mas foi rapidinho. Não ando com tanto tempo assim. Tive que estudar eletrônica, circuitos abertos e fechados,  corrente contínua e alternada. Vou tentar prosseguir hoje com os estudos, mas a parte ruim é que não me exercitei e sinto que ando engordando a cada dia mais. Preciso controlar essa boca.


Ando meio cansada e esgotada só de ver as discussões no Facebook, daí nem tenho força ou estômago escrever algo,  parece que é como dar pérolas aos porcos, daí tento me abster desses assuntos. 

Ah... tenho assistido uma série japonesa com o Dedé : One Punsh Man. Ela é meio tosca, mas chega a ser engraçada. Sempre acontece no início da noite, quando “saímos” dos nossos home-office.  Nesse momento, rimos  juntos das expressões “não expressivas” do protagonista – é a melhor parte. Eu amo estar com o Dedé – ele é uma ótima companhia.  

Bom... chega de escrever. Até amanhã!


Com carinho

Lina

quarta-feira, 25 de março de 2020

Overdose de tecnologia


Osasco, 25 de março de 2020

Querida Kitty

Acho que estou tendo uma overdose de tecnologia.  Faz dias que ando pensando em formas de trabalhar minha disciplina na cultura digital. Criei alguns blogs, pois são mais interativos, matriculei mais de 100 deles no curso online de programação e ontem foi o meu primeiro dia em EAD e deu pane no áudio do meu notebook. Foi meio estressante. O desktop na sala tava com o áudio bom, mas não tinha webcam. Por fim, o Dedé emprestou o notebook dele, pois ele estava usando o corporativo. Mas imagine um computador pelado, sem meus arquivos. Foi tenso ter que improvisar. O Roberto também ofereceu o computador dele, mas acabei usando o do Dedé. Teve uma hora aqui em casa que o Dedé estava em reunião com a empresa no quarto do Felipe. Eu na sala dando aulas online para utilização do portal de programação. E o Roberto no  nosso quarto atendendo a um cliente. Foi até engraçado. Quando dei por mim já era meio dia. Esquentei a comida. Engoli rapidinho. Troquei de uniforme e vim gravar vídeos no celular que prometi para o pessoal da Ong. Confesso que odeio gravar vídeos – não tenho vocação para ser youtuber e parece que só aparece a papada, mas vamos lá né? Atualizei os blogs que uso com os meninos na Ong, criei uma mini estante virtual para que eles leiam livros, arrumei o portal code de programação e gravei o vídeo. Sem contar no whatsapp – mensagens e mais mensagens. Era quase 18 horas quando terminei tudo. Tirei o uniforme e fui fazer a janta. Pergunta se quis usar mais computador? Acabei nem assistindo ao pronunciamento fatídico. Mas vendo hoje pelas redes sociais, a coisa pegou fogo. Que Deus tenha misericórdia dos profissionais da saúde. “Não podemos ignorar a pilha de corpos” – como disse Bill Gates.  Que Deus tenha misericórdia de nós.  Precisamos aprender com os outros países. Ver a coisa no âmbito do planeta. Depois desse vírus, talvez muita coisa precise ser reinventada, remanejada e usarmos ainda mais a nossa criatividade e compaixão.  Chega de escrever.
Preciso de colaboradores para contar seu dia a dia.



terça-feira, 24 de março de 2020

Convite e dilemas


Osasco, terça feira, 24 de março de 2020


Querida Kitty


Se eu tivesse um gatinha, acho que colocaria o nome de Kitty nela. Pera! Foco! Eu ia dizer que vou iniciar esse diário, após as memórias de Anne Frank estarem muito presentes em minha mente. Essa situação de trabalhar em casa gerou aquele lance de expectativa x realidade. Imaginei-me cuidando de minha casa, assando bolos, cultivando minha mini horta, construindo robôs, estudando circuitos eletrônicos e quem sabe, “ariando” uma panela. Só que até agora nada. Não consegui sair desse computador. As ideias ficam borbulhando em minha mente. Vida de professora de cultura digital que precisa preparar aulas digitais não é fácil não. Primeiro que a gente tem que pensar o que o aluno tem em casa. Nem todos têm um computador, alguns apenas um celular. O que roda nele?  E esses são meus dilemas. E daí acordei cedinho, mas jajá tenho a minha primeira aula EAD, mas ainda tô pensando nesse blog que acabei de criar para que meus alunos escrevessem o seu diário, mas acho que vou estender o convite a quem quiser compartilhar o seu dia-a-dia.  É um momento histórico. Ruas vazias. Uma tensão paira no ar, como se tivéssemos numa guerra, com um inimigo à espreita.  Ando angustiada em pensar nas pessoas que estão paradas em suas casas sem trabalhar, sem renda, sem comida. Ontem o Dedé foi ao mercado para mim (coisa raríssima), e ainda usou o VA dele para comprar farinha de trigo, fermento, pó de café, leite condensado. Imagino que todo mundo aqui de casa vai sair “bolinha”, mas em seguida vem um aperto pensando naqueles que não terão esse dinheiro para comprar as coisas. Mas assim é a capacidade do ser humano se reinventar. Talvez saiamos dessa situação mais resilientes e com a nossa humanidade mais aflorada. Acho que vou parar por aqui. Quem quiser escrever aqui no diário, sinta-se à vontade. Todos convidados!

Com amor

Lina Linólica



segunda-feira, 23 de março de 2020

Uma página do Diário de Anne Frank


Sábado, 27 de março de 1943
 Querida Kitty

Terminamos nosso curso de estenografia; agora começamos a praticar velocidade. Estamos ficando inteligentes, não? Preciso lhe contar sobre meus estudos para matar o tempo (dou-lhes essa definição porque não temos nada que fazer e precisamos arranjar atividades que façam os dias passar rapidamente. Só assim chegaremos depressa ao final de nossos dias aqui). Sou louca por mitologia, principalmente pelos deuses gregos e romanos. Aqui, eles acham que não passa de uma mania passageira, pois nunca ouviram falar de uma adolescente da minha idade interessar-se por mitologia. E daí? Serei a primeira! O sr. Van Daan está resfriado, ou melhor, sente uma pequena coceira na garganta, mas faz disso um cavalo de batalha. Gargareja com chá de camomila, pincela a garganta com tintura de mirra, esfrega eucalipto no peito todo, no nariz, dentes e língua; e, o que é pior, fica de um mau humor insuportável. Rauter, um dos chefões alemães, fez um discurso. "Todos os judeus devem deixar os países ocupados antes de 1º de julho. Entre 1º de abril e 1º de maio a província de Utrecht deverá estar saneada (como se os judeus fossem baratas). Entre 1º de maio e 1º de junho é a vez das províncias do norte e do sul da Holanda." Essa gente desgraçada é enviada para matadouros nojentos como um rebanho doentio e maltratado. Mas não vou falar nisso, pois só de pensar nessas coisas tenho pesadelos. Uma notícia que merece destaque é a de que o Departamento Alemão de Intercâmbio do Trabalho foi incendiado por sabotadores. Poucos dias depois, o Cartório de Registro Civil teve a mesma sorte. Homens vestindo uniformes de policiais alemães amordaçaram os guardas e conseguiram levar papéis importantes.

Sua Anne.